domingo, 17 de abril de 2011

O BATER DO MARTELO (SERÁ???...)



O mutismo pesado que pairava pela austera sala de tribunal foi quebrado pelo pigarro que o juiz Joaquim Maria proferiu como quem, já naquilo, determina uma condenação. O sinistro ruído assumiu o condão de sinal para que se pusessem todos em estado de alerta. Estremeceu o detetive Queiroz. Empertigou-se Brás Cubas, desenhando na sobrancelha direita um arqueado curioso. Puxou o ar pelas narinas um inquieto Simão Bacamarte. Nada mais conseguia a tensa Helena que lutar para controlar os soluços. Capitu, ao seu tempo, não completamente imóvel por conta do inevitável fluir da respiração, desenhou no olhar gélido todo o mistério de uma esfinge.

Pigarreou o juiz Joaquim Maria e sentenciou:

- Fica determinado, por esta Côrte de Justiça, que, após a audiência deste domingo, dia 17, cumprida rigorosamente às 20h, neste plenário do teatro Claudio Barradas, na comarca de Belém do Pará, está encerrada a primeira temporada de depoimentos do inquérito que apura esse escabroso caso alcunhado de... O ASSASSINATO DE MACHADO DE ASSIS!

O bater impiedoso do martelo atado ao punho do juiz despertou, de imediato, reações específicas. Riu com certo alívio o detetive Queiroz. Suspirou languidamente a ansiosa Helena. Alargou os ombros o insondável Brás Cubas. Estreitou as pálpebras Simão Bacamarte. Expressão alguma verteu a inabalável Capitu.

Estava, pois, tudo encerrado...

MAS ESPERE!!!!...

Acompanhado por um relâmpago que fez cintilar a silhueta de todos ali presentes, um mancebo... Um inesperado mancebo irrompeu o ambiente:

- Peço a palavra, caros senhores!...

Um grande e uníssono “oh” foi a sinfonia do instante.

Bradou o Juiz Joaquim Maria:

- O que significa isso, meu senhor?

Detendo-se rente à bancada do magistrado e virando-se para todos os demais, o recém chegado brandiu de um bolso do sobretudo um papel e tudo revelou em tom imperioso:

- Sou um causídico, senhor Juiz e caros indiciados. Um advogado...

- Tomara que não seja o advogado do Diabo... – ciciou Capitu com sua costumeira ironia...

Prosseguiu o invasor:

- Sou advogado do público, caros senhores.

E todos emitiram um novo “ohhh”

- Sim, sou advogado do público que acompanhou todo esse abusado e inquietante inquérito. E trago comigo um recurso ajuizado perante a Corte Suprema das Letras...

Todos: “Ohhhh”

- E o que determina tal recurso? Quis saber o Juiz Joaquim Maria.

Em tom solene e ladino, o advogado do público leu os termos de seu documento:

- Fica determinado que o inquérito teatral conhecido como... O ASSASSINATO DE MACHADO DE ASSIS, impetrado pelo dramaturgo Carlos Correia Santos e conduzido pelos atores Gustavo Saraiva, Márcio Mourão e Tiago de Pinho, sob a regência de Luiz Fernando Vaz e chancelas de Mega Mestre e Colégio Impacto, via Lei To Teixeira...

- Fale logo, pelo amor de Deus!... – Desesperou-se Helena

- Fica determinado que tal inquérito apenas encerra neste domingo sua primeira temporada... Em junho do corrente ano, caros senhores, agora na casa de apelações conhecida como Teatro Margarida Schivasappa... haverá novas oitivas de depoimentos...

Todos: “Ohhh”

- Teremos que aguardar até junho, então? Indagou um já suorento detetive Queiroz...

Pronunciou-se o Advogado do Público:

- Em primeira instância, sim. Essa nova rodada de oitivas de junho já está marcada e perpetrada. Mas vossas senhorias todas estão proibidas de se retirarem por completo do espaço memorialístico da platéia. Fiquem cientes de que é possível que antes de junho uma nova temporada aconteça... Afinal, estamos falando de teatro feito no Brasil... E, como todos sabem, nesse terreno pantanoso tudo pode acontecer...

Todos solfejaram:

“OHHH...”

E, mais uma vez, bateu o martelo o Juiz Joaquim Maria.

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