Já há quase três meses que esses tolos jovens têm se reunido. Uma tertúlia que causa espanto dada a dimensão do afinco de todos. Como escrevo aqui para ser lida por poucos – pelo menos, assim espero – confesso que me sobe ao peito demasiado dó dessas criaturas. Estão no meio de algo que sequer suspeitam quão hediondo é. Sei que são três atores, um diretor e um dramaturgo. Os três atores... Por Deus, inominavelmente abusados e ingênuos. O diretor? Um sandeu. Cristo Santo. Quanto ao dramaturgo... Palavra alguma seria melhor para defini-lo que... diabólico... Sei que os pobres discutem, debatem, querem tentar elucidar o caso com o maior grau possível de seriedade. Pantomima. Tudo pantomima. A informação que corre é a seguinte: o caso todo será exposto ao público a partir do dia 08 de abril. Em um tal teatro chamado... Ah, essa memória que tanto me trai... Sim, Cláudio Barradas... Eis o nome do teatro: Cláudio Barradas. Em Belém do Pará, vejam vossas senhorias... Que deboche... Pois, sim... Lá, nesse tal teatro, serão conhecidas as agonias imensas que tanto vêm sendo ocultadas. O assassinato de meu amado mestre será exposto... Medonhamente exposto... Dói-me tanto a alma conjecturar sobre o miserável vexame que sofrerá a imagem do ídolo pétreo das letras brasileiras... E também me embrulha a alma lembrar que precisarei encontrar aquela criatura sem graça e invejosa chamada Helena... Mas, enfim, agora não há como voltar atrás... Dias 08, 09, 10, 15, 16 e 17 de abril... nas sextas e sábados às 21h e nos domingos às 20h... Durante essa nefasta temporada, o caso será contado e recontado... Ai, ai, ai... Calafrios me consomem ao cismar sobre... O ASSASSINATO DE MACHADO DE ASSIS...
Bem...
Por agora, preciso pausar o escrever. Em tempo outro faço novo post. Sinto voltar a maldita acidez estomacal. Meus olhos lacrimejam... E todos insistem em pensar que meu olhar é oblíquo, misterioso... Com efeito, gastrite faz os olhos arderem, Pai Santíssimo...
Sem mais,
CAPITOLINA SANTIAGO. CAPITU.
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